Para
alcançar a sua funcionalidade, o ‘sistema’, que é a sociedade tecnológica
contemporânea, entre os seus principais instrumentos, pôs em funcionamento
poderosa máquina: a indústria cultural, constituída essencialmente pelos
mass-media (cinema, televisão, rádio, discos, publicidade, rotogravura, etc.).
É com a mídia que o poder impõe valores e modelos de comportamento, cria
necessidades e estabelece a linguagem. E esses valores, necessidades,
comportamentos e linguagem sal uniformes porque devem alcançar a todos; são
amorfos, assépticos; não emancipam, nem estimulam a receber passivamente as
mensagens.
‘A
indústria cultural realizou perfidamente o homem como ser genérico. Cada qual é
cada vez mais somente aquilo pelo qual pode substituir qualquer outro: ser
consumível, apenas exemplar. Ele próprio, como indivíduo, é o absolutamente
insubstituível, o puro nada (...). E isso pode ser visto também no
divertimento, que não é mais o lugar da recreação, da liberdade, da
genialidade, da verdadeira alegria. É a indústria cultural que fixa o
divertimento e seus horários. E o indivíduo se submete. Como se submete às
regras do ‘tempo livre’, que é o tempo programado pela indústria cultural. ‘A
apoteose do tipo médio pertence ao culto do que é barato’.
Desse
modo, a indústria cultural não vincula propriamente uma ideologia: ela própria
é ideologia, a ideologia da aceitação dos fins estabelecidos por ‘outros’, isto
é, pelo sistema. Foi assim que o iluminismo transformou-se no seu contrário.
Queria eliminar os mitos, mas criou-os desmedidamente. Na definição de Kant, ‘o
iluminismo é a saída do homem de estado de minoridade do qual ele próprio é
culpado. Minoridade por exemplo a incapacidade de valer-se do seu próprio
intelecto sem a guia de outro’. Entretanto, hoje o indivíduo é zero, sendo
guiado por ‘outros’. Outrora, dizia-se que o destino do indivíduo estava
escrito no céu; hoje, podemos dizer que é fixado e estabelecido pelo ‘sistema’.
ADORNO e HORKHEIMER, in Dialética do Esclarecimento.