segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A Estoá

(Esboço apenas para estudo)

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O ser, dizem os estóicos, é só aquilo que tem a capacidade de agir e sofrer. Mas este é apenas o corpo: “ser e corpo são idênticos” é, portanto, a sua conclusão. Corpóreos são também as virtudes e corpóreos os vícios, o bem e a verdade.
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Os estóicos falam, na verdade, de dois princípios do universo, um “passivo” e um “ativo”, mas identificam o primeiro com a matéria e o segundo com a forma (ou melhor, com o princípio enformante) e sustentam que um é inseparável do outro.
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“Segundo os estóicos, os princípios do universo são dois, o ativo e o passivo. O princípio passivo é a substância sem qualidade, a matéria; o princípio ativo é a razão na matéria, isto é, Deus. E Deus, que é eterno, é demiurgo criador de todas as coisas no processo no processo da matéria”; “Os discípulos de Zenão concordam em sustentar que Deus penetra em toda a realidade e que ora é inteligência, ora alma, ora natureza [...].”
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Dado que o princípio ativo, que é Deus, é inseparável da matéria e como não existe matéria sem forma, Deus está em tudo e Deus é tudo. Deus coincide com o cosmos. Dizem as fontes antigas “Zenão indica o cosmos inteiro e o céu como substância de Deus”. Ou ainda: “Chamam de Deus o cosmo inteiro e as suas partes”.
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Com base no que aqui foi precisado, é possível compreender plenamente a curiosa posição que os estóicos assumiram em relação ao “incorpóreo”. A redução do ser ao corpo comporta, como conseqüência necessária, a redução do in-corpóreo (daquilo que é privado de corpo) a algo que é privado de ser.
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A Providência estóica, afirma-se, nada tem a ver com a Providência de um Deus pessoal. É o finalismo universal que faz com que cada coisa (mesmo a menor das coisas) seja feita como é bom e como é melhor que seja. É uma Providência imanente e não transcendente, que coincide com o Artífice imanente, com a Alma do mundo.
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Mas, no contexto desse fatalismo, como se salva a liberdade do homem? A verdadeira liberdade do sábio consiste em conformar a própria vontade à do Destino, consiste em querer, com o Fado, aquilo que o Fado quer. Isto é “liberdade”, enquanto aceitação racional do Fado, que é racionalidade: com efeito, o Destino é o Logos; por isso, querer os quereres dos Destino é querer os quereres do Logos. Liberdade, pois, é pôr vida em total sintonia com o Logos.
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Nas plantas e vegetais em geral, essa tendência é inconsciente; nos animais, é consignada a um preciso instinto ou impulso primigênio; já no homem esse impulso é especificado e sujeito à intervenção da razão. Viver “conforme à natureza” significa, pois, viver realizando plenamente essa apropriação ou conciliação do próprio ser e daquilo que o conserva e ativa.  Em particular, posto que o homem não é simplesmente ser vivente mas é ser racional, o viver segundo a natureza será um viver “conciliando-se” com o próprio ser racional, conservando-o e atualizando-o plenamente.
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Posto que o instinto de conservação e a tendência ao incremento do ser são primeiros e originários, então “bem” é aquilo que conserva e incrementa o nosso ser e, ao contrário, “mal” é aquilo que o danifica e o diminui. Ao primeiro instinto está pois estruturalmente ligada a tendência a avaliar no sentido de que todas as coisas são reguladas pelo instinto primeiro; à medida que se mostrem benévolas ou malévolas, as coisas serão consideradas “bem” ou “mal”. O bem é portanto vantajoso e útil; mal é o nocivo.
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Pois bem, segundo os estóicos,  o bem moral é exatamente aquilo que incrementa o logos e o mal é aquilo que lhe causa dano. O verdadeiro bem, para o homem, é somente a virtude; o verdadeiro mal é só o vício.
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Um último ponto a considerar: a célebre doutrina da :apatia”. As paixões, das quais depende a infelicidade do homem, são, para os estóicos, erros da razão ou,  de qualquer modo, conseqüências deles.
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“A misericórdia é parte dos defeitos e vícios da alma: misericordioso é o homem estulto e leviano. (...) O sábio não se comove em favor de quem quer que seja; não condena ninguém por uma culpa cometida. Não é próprio do homem forte deixar-se vencer pelas imprecações e afastar-se da justa severidade”.


REALE, Giovanni & ANTISERI, Dario. História da Filosofia - Antigüidade e Idade Média. Edições Paulinas, São Paulo, 1990, vol.I, p.256-265.

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